quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Acácio Magro
Discuro de El-Comandante

Acácio Alberto Lamares Magro
ex-Comandante da Companhia "Os Magros do capim"

Discurso proferido por "El Comandante" no início das obras do Quartel de Aníbal Cunha


Decorria o ano de 1971 (mais coisa, menos coisa). Talvez início do ano de 72.
O Quartel de Aníbal Cunha estava reduzido a 2 elementos - O Comandante (Acácio Magro) e um raquítico mancebo de 53 Kg de peso a quem chegaram a dar, por analogia, o cognome de isca de fígado.
A restante prole, que desde a década de 30 do século passado tinha vindo a ser produzida quase de modo contínuo, foi sendo chamada a cumprir o mais alto dever pátrio, que era o de defender o Portugal multi-racial de aquém e além-mar.
Nessa altura, encontravam-se a cumprir serviço militar nas antigas Províncias Ultramarinas os seguintes elementos:
Guiné - Fernando (parte II) e Álvaro;
Moçambique - Dálio;
Angola - Carlos
Entretanto, o Rogério tinha terminado a sua comissão em Angola, mas não regressou àquele Quartel.
As manas Olga e Etelvina tinham abandonado o Quartel ainda antes da guerra se ter iniciado.
A mana Valdívia, embora tendo visitado o Quartel algumas vezes, julgo nunca lá ter pernoitado o que, em boa verdade, terá sido uma opção inteligente atendendo à superlotação da "caserna".
O "isca de fígado" estava na calha e pretendia fazer algum exercício físico no intuito de adquirir a robustez suficiente que lhe permitisse aguentar umas botas com cerca de meio quilo cada.
Foi então que El Comandante teve a ideia de efectuar alguns trabalhos de "embelezamento" do Quartel, talvez na secreta esperança de um dia ali receber Sua Excelência o Sr. Presidente do Concelho - Prof. Marcello Caetano, portador que fosse de uma qualquer medalha por tão valoroso contributo para o esforço de guerra.
El Comandante entendia que, com a sua superior orientação, alicerçada nos vastos ensinamentos obtidos na Escola Politécnica do Porto (Construção Civil e Química) e na Escola do Magistério Primário, poderia levar de vencida aquela batalha à frente de uma companhia composta de, apenas, um elemento.
Parecendo-me pouco provável que tal intento seria coroado de êxito, propuz que se recorresse à assessoria de um oficial superior perito no manejo de equipamento.


Concordou e, assim, recorremos ao Albino Seixas Ferreira (vulgo, "bigodes" - foto ao lado), trolha e meu amigo de infância que morava ali na Trav. da Carvalhosa.
Uma bela noite, quando nos preparava-mos para dar início aos trabalhos, surge-nos El Comandante, em pijama, com os óculos na ponta do nariz, com um papel na mão e, posicionando-se atrás de uma tábua de passar a ferro que ali se encontrava aberta a servir de apoio aos técnicos, começou a proferir, de improviso e em tom de orador político da época, um discurso de início dos trabalhos.
Atendendo à distância temporal que nos separa dos factos, é-me impossível reproduzir fielmente a totalidade daquele discurso, pelo que me limitarei a algumas frases que retive, mas que são demonstrativas do elevado sentido de humor do nosso saudoso Comandante.





Discurso de "El Comandante "

"É com imenso orgulho e com a voz embargada pela emoção que vejo, finalmente, dar-se início às tão adiadas obras de remodelação, pintura e, quiçá, de embelezamento do 3º andar do número 21 da Rua Aníbal Cunha, local de grandes tradições monárquicas!

(Nesta altura, o "bigodes" em cima da escada e de trincha na mão, ria já que nem um perdido o que fazia com que a escada abanasse e via-se em dificuldades para segurar a lata de tinta)
O discurso foi continuando no mesmo tom e, sempre com pinceladas humorísticas, lá foi debitando algumas frases alusivas às obras que se iriam iniciar, até que, apercebendo-se da iminência da queda da lata de tinta e já não conseguindo conter o riso, resolveu terminar o discurso da seguinte forma:

"Dou, assim, por iniciados os trabalhos.
Rapazes, agarrem-se ao pincel!"


Claro que, nesta altura, o "bigodes", desfeito em risos, se desiliquibrou completamente e eu, tentanto ajudá-lo e salvar a lata de tinta, levei uma valente pincelada na "tromba" e El Comandante, rindo até às lágrimas, bateu em retirada, abandonando as suas tropas.

(Abílio Magro)






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